quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Mais Pesado que o Céu

Venho experimentando livros de não-ficção. Confesso que a maioria não é fácil de ler. Mas sempre tive um pé atrás em ler biografias. É como se todo mundo virasse perfeito depois de morrer. A obra se limitaria a elogiar o morto. Os vivos também são preservados dos aspectos mais sórdidos. Mesmo em livros de memórias, me parece que a pessoa escolhe qual faceta que vai apresentar. 
Então escolhi ler uma biografia que tratasse de alguém que eu não admiro nem sou fã. E desta forma consigo fazer uma boa leitura sobre quem está sendo apresentado.
"Mais Pesado que o Céu" me despertou para vários aspectos que eu não imaginava. A visão deturpada que sempre foi passada de que os músicos precisam da droga para se inspirar, de que todo músico é drogado e de que os poetas morrem cedo foi a primeira delas. Não vou discutir o que veio antes: o ovo ou a galinha. Neste aspecto foi um pouco mais do mesmo, mas sem colocar a culpa em uma coisa ou outra. 
A quantidade de pessoas que contribuiu com seus relatos e permitiram que o autor costurasse a história reconstruindo o passado com uma riqueza de contribuições foi outro aspecto positivo. Houve o bom senso de utilizar uma versão possível sem descartar as outras e ainda sem inferir como sendo a verdade.
O livro é bem extenso. A leitura foi um pouco lenta nos primeiros anos de infância até o início das primeiras formações de uma banda. O Nirvana acaba sendo uma pequena parte da carreira de Kurt. Em tempos em que as bandas persistem por 30 anos, é até estranho pensar que fez tanto sucesso em tão pouco tempo. Apesar de algumas músicas terem feito muito sucesso, muitas mais foram gravadas e deixadas de lado. Apesar de não ser fã, eu ouvia algumas músicas durante a narrativa como se elas estivessem tocando.
Pessoas não seguem nenhuma lógica e é típico da natureza humana. Impressiona saber da obsessão para preservar a voz e as mãos e o total descaso com a integridade e amor-próprio. 
Alguns fatos levantados são críticas à sociedade e confrontados pela visão de "especialistas". Não me parece algo que seja arranjado. De fato existe muito preconceito com remédios para quem é diagnosticado com DDA. As gravadoras depois reconheceram as práticas tanto quanto arbitrárias.
Os capítulos que tratam dos últimos dias, do suicídio e das últimas horas de vida são impressionantes. Apesar do fim ser conhecido, em alguns momentos parecia ser possível que a história mudasse. É triste saber da quantidade de vezes que ele esteve muito perto da morte e foi ressuscitado enquanto que tantas outras pessoas lutam para viver e não têm a mesma sorte. Mas paciência. Admiro todos aqueles que salvaram esta vida.
Não vou estender o assunto já que, como disse, não era e continuo não sendo fã do cantor nem do grupo. A minha visão não mudou após esta experiência mas passei a respeitar grandemente autores como este que soube transformar algo que poderia ser um tributo a um ídolo em uma experiência de vida bem contada. Não sei se um fã diria a mesma coisa, mas também percebi que o autor soube valorizar o que havia de melhor em seu personagem.
Provavelmente a biografia de um artista que não cometeu nenhum destes excessos não venda livros, mas existem tantas pessoas maravilhosas que podem ter sua vida contada que acredito que um bom 'biógrafo" pode até transformar um zé ninguém em alguém valoroso. Recomendo ler esta obra e estou atrás de outras do tipo. "This is a Call" será a próxima.

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